Demanda Turística em La Paz

COSTA, Emanuel. Fortaleza, 2021.

La Paz é a capital administrativa e sede do Executivo e Legislativo da Bolívia, situado no Altiplano dos Andes e considerada a capital mais alta do mundo, a mais de 3500 metros acima do nível do mar. Seu nome vem da linguagem nativa aimará e a cidade foi fundada com o nome de “Cidade de Nuestra Señora de La Paz” em 20 de outubro de 1548 pelo então capitão espanhol Alonso Mendoza (IBCE, 2009).  No que se refere á sua localização topográfica, La Paz está situada entre um vale pertencente á Cordilheira dos Andes. Estas características geográficas são pontos importantes para a formação de um fluxo de visitantes atraídos tanto pela localidade quanto pelo clima tropical de altitude, com as temperaturas médias de 8º C.

Figura 1: Mapa da Bolívia destacando La Paz

Fonte: Google

Bolívia têm se adequado ás novas tendências mundiais que acometem ao turismo, apesar de contar com uma escassa participação da demanda turística mundial, principalmente pelos países vizinhos. La Paz, nos tempos pré-pandemia, recebia uma grande quantidade de turistas nacionais e internacionais, e possui estruturas de acomodação atrativas para receber os visitantes. Dentre as atrações, têm-se estações de esqui, catedrais, o sítio arqueológico de Tiwanaku e o Museu Nacional de Arte de La Paz.

Durante a Colónia e a República, ainda até meados do século XX, a organização e gestão ideológica e cultural do Carnaval no país era o modelo europeu, embora participassem mestiços e trabalhadores. No entanto, ao mesmo tempo, embora em nível não oficial, os carnavais indígenas também eram realizados em áreas suburbanas e rurais. Tendo isso em mente, pode-se considerar o carnaval como mestiço desde o século XIX ou até mesmo antes. Abominados pelos governos liberais e pela igreja, os carnavais que eram disseminados no país durante a época colonial, considerados pelos governantes como “tradições da barbárie”, foram se adequando ás transformações da sociedade boliviana ao longo do tempo.

Estas transformações, como apontam os estudiosos, confirmam a ideia de que as festividades carnavalescas são fruto de um conjunto de fatores sociais, históricos e políticos. Durante a revolução nacional em 1952, por exemplo, houve um desinteresse e pouco entusiasmo pela folia, visto que o país estava passando por um período de transformações sociais e crises econômicas. As elites transformaram o carnaval popular na época, e a quando houve o estopim do Movimento Nacionalista Revolucionário (MNR), os governantes passaram a organizar as festividades até meados de 1980.

Em La Paz, após o governo neoliberal, um dos personagens centrais do carnaval tradicional, o Pepino, voltou a ser utilizado sob influência da Prefeitura local, o que levou á origem de uma celebração paralela que denotasse mais os traços da cultura indígena, o J’iska Anata. O Pepino é a principal figura deste Carnaval, cuja aparência é semelhante com a de um palhaço e sua origem está vinculada com os arlequins da era republicana. Durante esta festa, são representados os grupos indígenas com seus trajes e instrumentos, e podem ser vistos todos os tipos de foliões e grupos de diferentes gêneros de dança e música: diabos, morenas, caporales, aproximando a festa das grandes festividades do Carnaval de Oruro e a da Fiesta Del Gran Poder.

Figura 2: O Pepino

Fonte: Pinterest

O Carnaval Paceño começa no domingo com a descoberta do Pepino, juntamente com a presença de desfiles e grupos artísticos regionais e nacionais. Na segunda, ocorre o J’iska Anata; Na terça-feira, o Challa e uma semana depois do domingo de Carnaval, o Pepino é enterrado, acompanhado por uma “marcha fúnebre” que se segue até o cemitério da capital.


1.      LA FIESTA DEL GRAN PODER

            Atualmente, o governo municipal, juntamente com algumas associações, administra as festividades folclóricas Após o encerramento do Carnaval das ruas, têm-se o inicio dos preparativos para a “Fiesta del Señor Jesus del Gran Poder”, símbolo do sincretismo religioso que mescla costumes aimarás com católicas, festival este que arrecada milhões de dólares e atinge grande parte da população boliviana. Cada bairro organiza os espaços públicos segundo sua administração, garantindo espaço para o setor comercial.

            Segundo o blog oficial do país, a origem da Fiesta Del Gran Poder remonta a oito de dezembro de 1663, durante a fundação do Convento de Las Madres Concepcionistas, onde foram evidenciados eventos milagrosos envolvendo uma pintura com a imagem de Jesus Cristo representando a divina trindade. Com o passar dos anos, foram sendo realizadas festas em homenagem á pintura, organizadas por padres e freires locais. Diferentes maneiras de cultuar a imagem foram se integrando aos encontros anuais, e o uso de fantasias e instrumentos musicais passou a ter um caráter mais simbólico e teatral, principalmente entre os devotos aimarás.

Figura 3: Desfile juntamente á imagem de Cristo

Fonte: UNESCO

            A festividade convoca uma diversidade de danças que agradecem e empoderam a imagem de Jesus Cristo, contando com a presença de cerca de trinta mil bailarinos e quatro mil músicos, segundo dados da UNESCO. Durante a execução deste evento nos bairros da cidade, ocorrem as práticas voltadas á religião católica, como as preces e os desfiles, assim como tradições da cultura aimará e a valorização da identidade andina. O coletivo ganha mais espaço do que a individualidade, sendo assim um evento que prega a colaboração da sociedade e a sobrevivência coletiva: o ayllu.

            Durante os eventos surgem os personagens que realizam os ritos e garantem a dinâmica e a sociabilidade da festa, como os pasantes, responsáveis pelas despesas e entretenimento durante os três dias de folia e a Pachamama, deusa da terra da cultura aimará, cujo papel é o de garantir fartas colheitas e a responsável de fiscalizar se as promessas feitas pelos devotos durante a festa foram cumpridas.

            Em 2017, o Ministério da Cultura e Turismo da Bolívia apresentou a declaração de Patrimônio da Humanidade do festival, e em 2018 a UNESCO anunciou que o arquivo seria revisado, mas apenas em 11 de dezembro de 2019, a Fiesta del Gran Poder foi declarada Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, dando como argumento a transformação e o estímulo que a cidade dá a cada ano como uma forma especial de compreender e celebrar o “catolicismo andino”. Dada a evolução do festival e o seu crescimento, começou-se um trabalho de cunho social e cultural para além do próprio festival, tendo, por exemplo, realizado um esforço coordenado para a restauração de vários templos na cidade de La Paz.

 

2.      FESTIVIDADE E RITUALIDADE

Um estudo de análise comparativa entre os carnavais nas sociedades coloniais da América luso-hispânica em constante transformação, entre o fim do século XIX e o início do século XX, vai confirmar a influência da cultura nativa e como a identidade de cada região da Bolívia vai estar vinculada com as festividades, principalmente La Paz e Oruro.

Advindas de origens remotas desse as procissões religiosas do período colonial e da união do Carnaval pagão-cristão europeu com os rituais indo-americanos, o principal objetivo destas festividades foi apontado como sendo a interação social durante um momento de desordem e o sentimento de liberdade da sociedade hierárquica, e “a riqueza das expressões festivas convoca os investigadores a analisar as articulações entre as várias visões de mundo que formaram as sociedades coloniais da América luso-hispânica: as indígenas (ameríndias) e as transportadas (ibéricas e africanas) e as suas fusões. vários modos de celebração da festa” (FREITAS, 2009, p. 15).

O patrimônio cultural dessas sociedades que compõem um mundo simbólico privilegiado é a base das identidades nacionais e regionais. A matriz africana profundamente arraigada em várias culturas da América Latina favorece os estudos comparativos entre os carnavais do Caribe colombiano e Salvador da Bahia no Brasil (ANGARITA, 2009). O Carnaval então atua como um instrumento social que reintegra as antigas tradições, modernizando-as para o contexto da sociedade atual, atuando no tempo e espaço e redefinindo as identidades. Compreendendo o imaginário como o conjunto de conceitos, formas de representação, mitos, lendas que intervêm na vida de uma determinada sociedade de forma mais ou menos consciente, fica evidente que nas mudanças do imaginário, fatores econômicos, políticos e ideológicos influenciam, ligada no período analisado à entrada na modernidade. (ROSSELS, 2018).

Em resumo, o Carnaval é uma festa que é celebrada em toda Bolívia com diversas modalidades, e cada região adota, em sua singularidade, traços e costumes que são baseados na cultura local e no histórico de transformações que aquela sociedade teve ao longo do tempo, mas o significado da festividade é igualmente disseminado tanto na Bolívia quanto em outros países que celebram o Carnaval. As características que sobreviveram até hoje nas várias formas de carnaval que se celebram foram se formando graças a diversos fatores históricos, incluindo controle social, regulamentações e concepções sobre religião, comportamento e sensualidade.

Marcos Gonzáles Pérez (2005) enfatiza que houve certa adaptação dos rituais e cerimônias carnavalescas às particularidades regionais, principalmente em relação à miscigenação cultural. Isso tem gerado novas considerações e debates sobre a natureza e as especificidades desta festividade. Estudar o Carnaval significa tentar entender as contradições, as mudanças, as opiniões e as dúvidas que emergem no âmbito da permissividade e da socialização que caracteriza a festa.

Figura 4: Grupo fantasiado com trajes aimarás

Fonte: Fotos Públicas


3.      DEMANDA TURÍSTICA

É possível observar semelhanças entre o Carnaval típico de Oruro com o que é festejado em La Paz, sejam essas semelhanças com relação á danças, costumes ou objetivos. La Paz possui uma variabilidade de rotas que interligam grande parte do país, sejam rodoviárias ou aeroviárias.

Figura 5: Rota entre La Paz e Oruro

Fonte: Google

Figura 6: Aerolinhas relacionadas á La Paz

Fonte: LATAM


4.      MAPA COGNITIVO

 



            5.    MAPA PROCESSUAL


6.      ARTIGOS

ABERCROMBIE, Thomas. La fiesta del Carnaval postcolonial en Oruro: clase, etnicidad y nacionalismo en la danza folklórica. En: Revista Andina 10 No. 2. 1996.

CÁNEPA, Gisela. Migración, fiesta andina y ciudadanía cultural. Reunión anual de Etnología (RAE), MUSEF, 2006. La Paz.

GONZÁLES PÉREZ, Marcos. Carnestolendas y Carnavales en Santa Fe y Bogotá. Bogotá, 2015.

DA MATTA, R. (1991). DA MATTA, Roberto. Carnavales, Malandros y Héroes. F.C.E., México, 2002

PAREDES CANDIA, Antonio. De la tradición paceña. Folklore y tradiciones de la ciudad de La Paz. Ediciones Isla, 1982. La Paz.

PEREIRA, Vela Mirtha. Migración y subcultura urbana. Procesos de desestructuración de la identidad comunitaria de origen. Reunión anual de Etnología (RAE), MUSEF, 2007. La Paz.

DROGUETT, Francisca. Festividad y ritualidad andina en la Región Metropolitana. Fondo Nacional de Cultura y Artes, 2011. Santiago.

ROSSELS, Beatriz Transformaciones del imaginário social en los carnavales de Bolívia. Universidad Mayor de San Andrés, 2018. La Paz. Disponível em: https://xdoc.mx/documents/transformaciones-del-imaginario-social-en-los-carnavales-de-5ef51099d8be0.

https://omnibus.miradamalva.org/n21/bolivia.html

 

6.      FONTES MIDIÁTICAS

https://fotospublicas.com/veja-fotos-carnaval-em-la-paz-bolivia/

https://info.caserita.com/Pepino-el-rey-del-Carnaval-Paceno-a353-sm126

https://www.bolivia.com/especiales/Gran_Poder/hnota.htm.

 

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